TI E
COMPETITIVIDADE EM SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES
Heitor M Quintella, DSc
Certified Management Consultant
Departamento
de Engenharia de Produção - UFF
Dario Paim
Mestrando da
UFF
RESUMO
Este trabalho examina o processo de customização com o emprego da tecnologia de informação no setor de telecomunicações.
Desde o início do século
o paradigma adotado por todo sistema de produção mundial, era a “Produção em
Massa”, que teve como principais mentores Henry Ford e seus engenheiros de
produção da Ford Motors Company.
O princípio que norteou
todo sistema de produção em massa foi o “Princípio do Fluxo”, implantado por
Ford e seus engenheiros, na linha de montagem móvel do modelo “ T ”, através da
reorganização funcional da fábrica, com uma linha de montagem com movimento.
A produção em massa
tornou-se um paradigma, não apenas de produção, mas também de gestão, aceito e
seguido, tanto por prestadores de serviço quanto pelos fabricantes.
O processo de falência da
produção em massa começou nos anos 60, acelerou nos anos 70, e explodiu nos
anos 80, acontecendo o que o filósofo Thomas Kuhn chamou de “Crise no
Paradigma”, ou seja o paradigma antigo da produção em massa já não era capaz de
explicar as anomalias ou prover soluções para os novos problemas, sendo que nos
anos 90 já era impossível ignorar as mudanças ocorridas nas últimas décadas,
nem descartá-las como irrelevantes.
O cenário atual está
muito diferente do da velha produção em massa , que previa produtos
padronizados, mercados homogêneos e longos ciclos de vida dos produtos. Hoje,
um novo paradigma está emergindo, “ A Customização Maciça “ , calcado em
produtos personalizados e variados, mercados heterogêneos, e curtos ciclos de
vida dos produtos, dando origem ao que está sendo chamado, e amplamente
noticiado em toda imprensa, de Nova Economia.
Na indústria de telecomunicações no país, a mudança do
monopólio estatal, para a exploração pelo setor privado, levou aproximadamente
3 anos, e inicialmente foi preparado para ser executado em duas fases.
Primeiro o Sistema Telebrás foi preparado e dividido
em Serviço Móvel e Fixo Comutado, dividido por regiões, com o objetivo de ser
leiloado, o que aconteceu em julho de 1998.
O regime inicial implantado foi o duopólio. Os ativos de telefonia fixa da Telebrás foram divididos em três regiões de negócios, capazes de gerar renda semelhante e de atrair capital privado de empresas nacionais e estrangeiras.
O duopólio foi estabelecido, contrapondo, de um lado
as concessionárias do Serviço Fixo Comutado ( STFC ), que ganharam ativos
prontos e firmaram contratos de universalização e expansão, fixadas no Plano de Metas pela Agência
Nacional de Telecomunicações (Anatel), e devem ser cumpridas até 2003.
As empresas espelhos, em contrapartida, tiveram liberdade para competir, embora tendo que montar nova infra estrutura, ou aluga-las de terceiros. A criação das espelhos, se iniciou em 1999 e se prorrogou até 2000.
O filão do mercado de telecomunicações são as
comunicações corporativas das multinacionais e de suas ligações internacionais,
que constituem alvo central das operadoras.
A Internet de faixa larga, obtida via satélite.
fibra óptica e RDSI, aliadas as aplicações para colaborações eletrônica, com
todo tipo de Busines-to-Business, B2B e-commerce, Enterprise Resources Planning (ERP) e Customer Relationship
Management (CRM), vão ser o campo de batalha tático do marketing das operadoras, juntamente com a mobilidade.
A tecnologia continuará a avançar nas redes, sobre
um núcleo operando a altíssima velocidade, e haverá uma camada intermediária de
adaptação e outra de acessos.
A mobilidade estará na ordem do dia e os atuais
serviços de banda estreita, voz e poucos dados, conviverão com os de banda
larga, multimídia. A televisão digital trará a imagem móvel ao reino dos bits,
onde já se encontram texto, voz e dados. As aplicações das telecomunicações e
da tecnologia da informação irão modificar a vida de cada indivíduo.
As oportunidades para o mercado de hardware tendem a
ser tornar cada vez mais commodity, sendo que as aplicações de software, e a de
implantação de sistemas deverão continuar em alta. Altos investimentos ainda
serão necessários para vivermos com plenitude a tecnologia da informação.
No caso do Brasil, com alta dependência de
tecnologia externa, temos que considerar o problema da balança de
pagamentos, reflexo de uma política
industrial, tecnológica e de qualificação
de pessoal, ainda a ser implementada com prioridade e em larga escala.
A meta da universalização dos serviços, ou, em termos
simples, “meios de comunicação, informação e entretenimento disponíveis para
todos”, não deverá ser relegada.
No mesmo discurso otimista, a grandeza de escala, numa
espiral virtuosa, que tenderá a baratear os custos dos serviços, e a ação do
órgão regulador oscilará entre regular mais ou, então, deixar o próprio mercado
se auto-regular.
A TI, principal
ferramenta capaz de propiciar tal transformação em todos os segmentos, inovação
e consequente customização, também está sofrendo uma radical transformação, com
as implicações dessa nova economia de rede centrada no consumidor, fazendo com
que as aplicações resultem em claros ganhos de eficiência e produtividade,
quando aplicadas apropriadamente, produzindo uma total redução de custos.
No entanto, é importante perceber que gerenciar relações é um conceito e não uma característica oferecida por um software. Orientar a atuação de uma corporação ao cliente, não é uma tarefa fácil de ser colocada em prática, e a principal razão, é que para tanto, se faz necessária uma mudança não só de cultura organizacional como de processos, e como podemos ver, o atual cenário competitivo da indústria de telecomunicações no país, é muito turbulento, onde muitos movimentos estratégicos ainda estão por acontecer, e é dentro deste contexto que avaliamos a competitividade desta indústria.
2. HIPÓTESES UTILIZADAS
Hipótese 1 (
H1 )
As empresas pesquisadas, do segmento de
telecomunicações estão mudando sua estratégia competitiva.
Hipótese 2 (
H2)
As empresas do segmento de telecomunicações pesquisadas estão deslocando seu foco, em função do novo paradigma competitivo “ Customização Maciça “.
Hipótese 3 (
H3 )
As empresas do segmento de telecomunicações pesquisadas estão utilizando a tecnologia da informação, como diferencial estratégico, conseguindo assim uma vantagem competitiva sustentável.
3. POPULAÇÃO
Esta pesquisa foi realizada
em âmbito nacional, e foram selecionadas empresas dos diversos setores da
indústria de telecomunicações, empresas fornecedoras de rede de
transporte, Fornecedoras e instaladoras
de infra-estrutura, operadoras de telefonia fixa, operadoras de telefonia
móvel, operadoras de longa distância e fabricantes de equipamentos.
Foram entrevistados executivos das 20 empresas que
estão em vermelho das 44 empresas que compõe a amostra no quadro abaixo, com
intuito de obtermos um universo estatístico significativo.
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AMOSTRA |
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OPERADORAS |
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FABR. DE EQUIP |
INSTALADORAS |
STFC |
SMC |
SERVIÇO |
LD |
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TELEMAR |
ATL TESS |
EMERGIA TNEXT CGI – BELL |
EMBRATEL |
ALCATEL |
ENGESET |
VESPER |
TELEFÔNICA CEL |
CANADA |
INTELIG |
LUCENT |
CONSTRUTEL |
BRASIL TELECOM |
MAXITEL TELET |
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NORTEL |
ENSEL |
GVT |
TELESP CELULAR |
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SIEMENS |
SCHAIN CURY |
TELEFÔNICA |
CRT CELULAR |
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SPLICE |
NESIC |
VESPER SP |
AMERICEL TIM |
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ERICSSON NOKIA |
ELO ENGENHARIA |
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BCP |
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NEC |
TELEALFA
ENGENHARIA |
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CISCO |
TELEREDES |
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MOTOROLA |
ETE |
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|
TELL LABS |
NETSTREAM |
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ANRITSU |
METRORED |
Portanto 5% das empresas
pesquisadas foram de segmento de telefonia fixa ( STFC ), 30% do segmento de
telefonia móvel ( SMC ), 15% do setor de serviços, 30% fabricantes de
equipamentos de telecomunicações e 20% instaladoras.
O número de empresas que aderiram a pesquisa foi
relativamente alto, se compararmos com a pesquisa conduzida por Pine na década
de 90 nos EUA, cujo grau de aderência foi de 25%.
A expectativa inicial era de entrevistar executivos
de todas as 44 empresas, contidas na amostra indicada no quadro acima. No
entanto as empresas onde realmente se conseguiu entrevistar executivos foram as
20 empresas que estão em vermelho no quadro, o que representa um percentual de
aderência a pesquisa de 45%.
A pesquisa foi realizada em âmbito nacional apesar
de ter ficado concentrada no eixo Rio- São Paulo – Belo Horizonte.
5. INSTRUMENTO
DE MEDIDA
Foi utilizado um questionário específico, para cada
referencial teórico, nos quais este estudo está baseado, como instrumento de
medida, ou seja será utilizado um questionário, sobre turbulência de mercado,
baseado no Modelo de Estabilidade
Dinâmica de Joseph Pine (Pine,1993), validado pelo próprio Pine
em sua pesquisa junto mais de 150 companhias Norte Americanas, publicado no
Brasil pela editora Makron Books em 1994,
e outro questionário sobre
aplicação da tecnologia da informação, baseado no Modelo de Cadeia de Valor de
Michel Porter (Porter,1985), validado em pesquisa realizada pela Fundação
Getulio Vargas – FGV, com o apoio da IBM, junto a 12 empresas líderes de seus
segmentos de mercado, pesquisa essa que recebeu o nome de “Amostra Brasil I”,
cujos resultados foram publicados na revista Suma Econômica em março de 1997.
6. COLETA DE
DADOS
Foram entrevistados em cada empresa os executivos responsáveis pelas áreas de tecnologia , marketing e o executivo chefe.
Foram aplicados questionários específicos a cada um desses executivos, com o intuito de captar suas percepções sobre os vários aspectos abordados nos questionários como mercado, produtos, processos e aplicações de TI.
As duas primeiras hipóteses foram corroboradas, logo considera-se que realmente as empresas do setor de telecomunicações, estão percebendo a atual turbulência no mercado, e em função dessa turbulência estão deslocando seu foco em direção ao novo paradigma da customização maciça.
Nota-se que ao passo que nos EUA na década de 90 o nível de turbulência foi de 54 pontos, o nível de turbulência encontrado pela pesquisa no mercado nacional foi de 59 pontos, apontando um aumento no nível de turbulência de 5 pontos, e demonstrando que estamos diante de um mercado muito turbulento.
Segundo a maioria dos executivos entrevistados por Pine nos EUA, a mudança mais profunda ocorrida no ambiente der mercado americano, durante a década de 80, foi a divisão da AT&T, um dos gigantes do mercado mundial de telecomunicações, ao passo que durante as entrevistas desse trabalho, a grande maioria dos executivos, apontaram a globalização, o desenvolvimento tecnológico, e a quebra do monopólio estatal de telecomunicações, como sendo as mudanças mais profundas no ambiente do mercado nacional, durante a última década.
Considerou-se também que os principais fatores por trás dessas mudanças são a Internet, que democratizou em muito a informação, e o mercado, formado por consumidores cada vez mais bem informados e exigentes.
Quando questionados sobre nível de variedade e
customização praticados hoje, comparados com os de uma década atrás, foram
enfáticos em dizer que hoje produzem uma maior variedade e customização do que
a uma década atrás, e atribuem esta mudança a maior competitividade do mercado,
e ao desenvolvimento tecnológico. Consideram ainda que esta variedade e
customização tende a aumentar no futuro, e que o software é o principal fator
capaz de impulsiona-la. Não acreditam que ela chegue a consumidores
individuais, e que a componente financeira é o fator limitador dessa
customização.
A terceira hipótese, que tinha o objetivo de
verificar se as empresas pesquisadas do setor de telecomunicações estão usando
a tecnologia da informação como diferencial estratégico, conseguindo assim uma
vantagem competitiva sustentável, também foi corroborada.
A intensidade com que a
tecnologia da informação é aplicada nos processos de fabricação é baixa, o que
de certa forma se explica pelo fato da amostra ser composta na sua maioria por
empresas prestadoras de serviço.
A intensidade com que a tecnologia da informação
está sendo usada como diferencial estratégico também é muito baixa,
principalmente se compararmos com os resultados da Amostra Brasil I.
Ainda com relação a aplicação da tecnologia da informação pode-se observar que ela é aplicada de maneira mais intensa na automação de escritório, e nos sistemas de informação gerencial, apesar de se notar que sua presença em todos os tipos de sistemas é significativa.
Pode-se observar, pelas respostas livres, que a
maioria dos entrevistados, quando questionados sobre qual seria o papel dos
main frames no mercado atual, responderam que a não ser por aplicações muito
específicas que exigissem um volume de processamento muito grande, não viam mais nenhum papel para esses
computadores no mercado atual.
Essa tendência é confirmada pela presença intensa as redes de computadores, redes locais e de longa distância, fortemente representadas pelas intranets e pela própria Internet, e as aplicações envolvendo os main frames encolhendo cada vez mais, como podemos comparar com a Amostra Brasil I, em função do processamento centralizado dos main frames ter sido substituído pelo processamento distribuído dos micros, nos processos de downsize.
Se comparamos com os dados da Amostra Brasil I,
verificamos que as ligações micro main frame estão diminuindo, o número de
micro computadores aumentou muito.O número de equipamentos como
supercomputadores é bastante pequeno, em torno de 30%, e a tendência é de
queda.
A utilização mais intensa e significativa dos
recursos de TI está nos sistemas de automação de escritório e de informação
gerencial, sendo que nos sistemas de apoio à decisão, informação executiva e
sistemas de EDI, essa utilização ainda é tímida.
7. CONCLUSÃO
Foi medida uma
turbulência de mercado de 59 pontos, contra os 54 pontos medidos no mercado
americano na década de 90 pelo Prof. Joseph Pine..
Houve um aumento na turbulência de 5 pontos,
representando um mercado muito turbulento, o que é um forte indicativo de necessidade
de se migrar em direção ao novo paradigma da Customização maciça.
Esse deslocamento foi notado através dos questionários, onde os executivos além de perceber tal movimento, foram enfáticos em reconhecer que hoje estão praticando maior variedade e customização do que à uma década atrás, e que para suportar essa nova onda, estão modificando radicalmente seus processos e estruturas organizacionais.
Para suportar esse volume tão grande de
alterações, ocasionado por essa nova demanda de mercado, cada vez mais incerta
e personalizada, a tecnologia da informação emergiu como a grande ferramenta
capaz de reduzir tempo e custo, criar diferenciação, tornar as estruturas mais
enxutas, proporcionando maior competitividade as empresas.
Notou-se na pesquisa, que as empresas do setor de telecomunicações no mercado nacional, já iniciaram essa caminhada, embora ela ainda esteja no começo. Já se vê um direcionamento estratégico para a tecnologia da informação, com um volume significativo dos recursos voltados para sistemas de informação gerencial, porem ainda tímido em sistemas de apoio à decisão, de informação executiva e sistemas para modificação e melhoria do sistema produtivo.
BIBLIOGRAFIA
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