UMA
ANÁLISE DA qualidade e DA produtividade de programas de pós-graduação em
engenharia
João Carlos Correia Baptista Soares de Mello
Departamento de
Engenharia de Produção – Universidade Federal Fluminense
Rua Passo da
Pátria 156, 24210-240, Niterói, RJ
gmajcsm@vm.uff.br
Programa de
Engenharia de Produção – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Caixa Postal:
8183, 21032-970, Rio de Janeiro, RJ
eggomes@pep.ufrj.br
Lidia Angulo
Meza
Departamento de Ciências Exatas e
Tecnológicas – Universidade Veiga de Almeida
Rua Ibituruna 108, 4º andar, 20271-020, Rio de Janeiro, RJ
lidia_a_meza@yahoo.com
Maria Helena Campos Soares de Mello
Departamento de
Engenharia de Produção – Universidade Federal Fluminense
Rua Passo da
Pátria 156, 24210-240, Niterói, RJ
mhelenamello@netscape.net
Os cursos de pós-graduação são avaliados
periodicamente pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino
Superior) segundo critérios nem sempre claros.
Esses critérios buscam medir, dentre outros, a produtividade acadêmica
(incluindo-se qualidade e quantidade da produção científica), a dedicação do
corpo docente, o tempo para conclusão do curso etc. A quantificação da excelência acadêmica não é geralmente
realizada; é feita de forma qualitativa.
Este artigo tem como objetivo avaliar o desempenho de programas de
pós-graduação em Engenharia na capacidade de transformar teses de mestrado e
doutorado em produção científica pública, e a produção de cada programa de
pós-graduação em relação aos recursos de que dispõe. Para ambos os casos são utilizados modelos de Análise Envoltória
de Dados (Data Envelopment Analysis –
DEA) com retornos constantes de escala (CCR).
São usados como unidades de avaliação os 12 programas de pós-graduação
em Engenharia da COPPE (UFRJ).
Palavras-chave:
Qualidade,
Produtividade, Pós-graduação.
1. Introdução
As avaliações de
produtividade em educação são normalmente subjetivas devido à grande quantidade
de variáveis a serem consideradas. Para
quantificar e agregar essas variáveis em um único índice há a necessidade da
imposição de pesos, cuja subjetividade pode ser causa de desconforto e não
aceitação dos resultados.
A avaliação educacional deve
ser quantitativa e comparada (Boclin, 1999).
A abordagem por Análise Envoltória de Dados (Data Envelopment Analysis – DEA) (Cooper et al., 2000) apresenta
essas duas características em consonância.
No entanto, os pesos atribuídos pelos modelos DEA clássicos são
calculados através de um problema de programação linear, de forma que cada DMU
se beneficie com a melhor combinação de pesos, maximizando sua eficiência. Entretanto, os pesos podem não ser
considerados realistas pelos especialistas no assunto, o que pode gerar
dificuldades na aceitação dos resultados do modelo.
É assim desejável uma
metodologia que alie a subjetividade da avaliação qualitativa com a
objetividade da avaliação quantitativa de DEA (Soares de Mello et al., 2001)
[13]. Este artigo, que estende os
resultados obtidos por Soares de Mello et al. (2002) [10], tem duplo objetivo:
avaliar a eficiência dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro em relação à geração de produção
científica a partir das teses defendidas e avaliar a produtividade dos seus
programas. A primeira medida pode ser
encarada como uma medida de qualidade e a segunda como uma medida de
produção. Em ambos os casos, são usados
modelos DEA com retornos constantes de escala (DEA CCR). No primeiro caso, no qual há um consenso
sobre a importância de cada variável, foi utilizada uma técnica de restrição
aos pesos. No segundo caso, em que esse
consenso não existe, foi usada uma técnica de seleção de variáveis para
melhorar a discriminação do modelo.
2. Análise Envoltória de Dados – DEA
A Análise Envoltória de
Dados (Data Envelopment Analysis –
DEA), desenvolvida originalmente por Charnes et al. (1978) no contexto da
avaliação de escolas, é um método que usa programação linear para determinação
de eficiências comparativas de Unidades de Tomada de Decisão (Decision Making Units – DMUs) onde não
seja preponderante ou não se deseja considerar somente o aspecto financeiro
(Gomes et al., 2001). A eficiência
relativa de uma DMU é definida como a razão da soma ponderada de seus produtos
(outputs) pela soma ponderada dos
insumos necessários para gerá-los (inputs).
Ao
contrário dos modelos tradicionais de apoio à decisão com vários critérios, não
há a figura de um decisor arbitrário que escolhe os pesos para cada fator de
ponderação. Eles são obtidos pelo
próprio modelo matemático. Para isso, é
resolvido um problema de programação fracionária que atribui a cada DMU os
pesos que maximizam a sua eficiência.
Assim, os pesos são diferentes para cada unidade em estudo e o mais
benevolentes possíveis para essa unidade.
Portanto, a abordagem por DEA impede que os responsáveis por uma unidade
cuja avaliação não tenha sido boa argumentem que tal situação se deveu a uma
escolha casuística de pesos.
Os
modelos DEA podem levar em conta as diferentes escala de operação. Quando isso acontece o modelo é chamado de
BCC (Banker et al., 1984). Quando a
eficiência é medida sem considerar os efeitos de escala, o modelo é conhecido
como modelo CCR (Charnes et al., 1978).
É apresentada em (1) a formulação do problema de programação
fracionária, previamente linearizado, para o modelo DEA CCR (Lins e
Angulo-Meza, 2000, Cooper et al., 2000).
Para o modelo (1) com n DMUs, m inputs e s outputs,
ho é a eficiência da DMU o em análise; xik representa o input
i da DMUk, yjk
representa o output j da DMU k; vi é o peso
atribuído ao input i, uj
é o peso atribuído ao output j.
Esse modelo deve ser resolvido para cada DMU.
Neste trabalho foi usado o modelo
CCR. A escolha desse modelo é
justificada pelo fato de os programas de pós-graduação terem porte semelhante,
ou seja, os efeitos relacionados à escala de cada programa não são relevantes.
(1)
A estrutura matemática dos
modelos DEA faz com que, freqüentemente, uma DMU seja considerada eficiente por
serem atribuídos pesos nulos a algumas variáveis. Essas variáveis são desconsideradas na avaliação da eficiência
daquela unidade, podendo acarretar uma avaliação incompleta. Essa situação é mais grave quando o número
de DMUs é pequeno com relação ao número de variáveis.
Existem duas formas de se
contornar essa situação. A primeira
utiliza restrições que permitem variar os pesos em certas faixas pré-definidas,
minimizando-se a quantidade de variáveis que recebem peso zero (Lins e
Angulo-Meza, 2000). A segunda é, dentre
todos os possíveis inputs e outputs, escolher os mais relevantes de
acordo com critérios quantitativos.
O método de restrição aos
pesos compara a “importância” de pares de variáveis, desde que se faça uma
prévia normalização para que os pesos retratem fielmente as preferências dos
especialistas. Já a seleção de
variáveis deve cumprir dois objetivos conflitantes: o ajuste à fronteira e a
discriminação completa das DMUs.
O método de restrição aos
pesos é utilizado na análise da qualidade e o de seleção de variáveis na
análise de produtividade.
3. Avaliação de
qualidade e de produtividade dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro
3.1. Unidades
de avaliação – DMUs
Para este estudo de caso
foram selecionados os Programas de Pós-Graduação em Engenharia, sob coordenação
do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia
(COPPE), com sede na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A COPPE é constituída de 12
Programas: Engenharia Biomédica (PEB), Engenharia Civil (PEC), Engenharia
Elétrica (PEL), Engenharia Mecânica (PEM), Engenharia de Materiais e
Metalúrgica (PEMM), Engenharia Nuclear (PEN), Engenharia Naval e Oceânica
(PENO), Engenharia de Produção (PEP), Engenharia Química (PEQ), Engenharia de
Sistemas e Computação (PESC), Engenharia de Transportes (PET) e Planejamento
Energético (PPE). Esses programas
representam as DMUs do modelo DEA.
3.2. Avaliação
de qualidade
Para a avaliação da
qualidade científica, as variáveis selecionadas representam as teses publicadas
e as publicações provenientes dessas teses.
Como recursos (inputs) foram
escolhidas as Teses de Mestrado (TM) e as Teses de Doutorado (TD); como
produtos (outputs), as publicações em
Revistas Internacionais (RI), em Revistas Nacionais (RN), em Congressos
Internacionais (CI) e Nacionais (CN), Livros publicados (L) e Extras (EX). Este modelo mede a capacidade de cada
programa de gerar publicações científicas baseadas nas teses defendidas.
Os dados utilizados
referem-se ao somatório das variáveis para o período compreendido entre 1996 e
2000 (inclusive). O uso deste intervalo
temporal alargado tem como objetivo diluir a defasagem entre a data da defesa
das teses e a data de publicação de seus resultados para a comunidade
científica.
Assim, o modelo DEA CCR é
constituído de 12 DMUs, 2 inputs e 6 outputs. A Tabela 1 apresenta os valores das variáveis.
Tabela 1 - Valores para as variáveis.
DMUs |
TM |
TD |
RI |
RN |
CI |
CN |
L |
EX |
PEB |
59 |
24 |
24 |
21 |
66 |
194 |
0 |
6 |
PEC |
189 |
88 |
71 |
22 |
283 |
186 |
3 |
28 |
PEL |
132 |
33 |
83 |
13 |
229 |
165 |
2 |
16 |
PEM |
79 |
30 |
60 |
13 |
81 |
136 |
1 |
9 |
PEMM |
114 |
47 |
107 |
29 |
102 |
277 |
1 |
4 |
PEN |
62 |
29 |
46 |
10 |
50 |
131 |
0 |
1 |
PENO |
72 |
19 |
17 |
5 |
71 |
62 |
0 |
19 |
PEP |
286 |
181 |
22 |
44 |
66 |
179 |
8 |
53 |
PEQ |
79 |
69 |
139 |
32 |
138 |
332 |
1 |
6 |
PESC |
150 |
78 |
62 |
22 |
183 |
211 |
3 |
92 |
PET |
72 |
15 |
7 |
12 |
57 |
91 |
2 |
33 |
PPE |
84 |
4 |
12 |
13 |
31 |
41 |
7 |
32 |
3.2.1.
Modelo DEA CCR sem restrições aos pesos
As Tabelas 2 e 3
mostram, respectivamente, os resultados de eficiência e as DMUs de referência
(ou benchmarks) para as ineficientes,
e os pesos atribuídos pelo modelo para as variáveis.
Cabe destacar que para
as DMUs eficientes os pesos apresentados não são únicos, ou seja, para tais
DMUs outro software utilizado pode
encontrar um conjunto diferente de pesos que mantenha a DMU com eficiência
100%.
Como pode ser observado
na Tabela 3, existem de três a cinco pesos nulos para cada DMU, o que significa
que essas variáveis estão sendo desconsideradas como critérios de
avaliação. Ou seja, um grande número de
critérios julgados importantes na avaliação não foram levados em conta. Assim, torna-se necessário um refinamento do
modelo usado.
Tabela 2 - Eficiências no modelo DEA CCR, sem restrições aos pesos.
DMUs |
Eficiência (%) |
PEB |
100,0 |
PEC |
90,6 |
PEL |
100,0 |
PEM |
89,0 |
PEMM |
100,0 |
PEN |
76,8 |
PENO |
79,2 |
PEP |
61,5 |
PEQ |
100,0 |
PESC |
100,0 |
PET |
100,0 |
PPE |
100,0 |
Tabela 3 - Pesos atribuídos no modelo DEA CCR sem restrições.
DMUs |
Pesos |
|||||||
TM |
TD
|
RI |
RN |
CI |
CN |
L |
EX |
|
PEB |
2,144 |
4,206 |
0,000 |
1,570 |
0,000 |
0,429 |
0,000 |
0,000 |
PEC |
1,513 |
0,000 |
0,000 |
0,027 |
0,782 |
0,000 |
0,366 |
0,219 |
PEL |
0,614 |
3,930 |
0,305 |
0,000 |
1,010 |
0,000 |
0,000 |
0,000 |
PEM |
0,876 |
4,574 |
1,986 |
0,000 |
0,000 |
0,207 |
0,000 |
0,591 |
PEMM |
0,284 |
3,415 |
0,655 |
0,068 |
0,000 |
0,540 |
0,000 |
0,000 |
PEN |
1,170 |
4,659 |
1,087 |
0,000 |
0,603 |
1,353 |
0,000 |
0,000 |
PENO |
2,654 |
3,163 |
0,000 |
0,000 |
2,398 |
0,000 |
0,000 |
1,930 |
PEP |
1,000 |
0,000 |
0,000 |
0,544 |
0,000 |
0,000 |
0,154 |
0,523 |
PEQ |
3,620 |
0,000 |
0,756 |
0,000 |
0,450 |
0,000 |
0,000 |
0,372 |
PESC |
1,907 |
0,000 |
0,301 |
0,000 |
0,000 |
0,000 |
0,000 |
0,866 |
PET |
2,543 |
4,342 |
0,000 |
0,000 |
1,188 |
0,996 |
0,000 |
1,359 |
PPE |
0,000 |
45,250 |
0,000 |
0,000 |
0,000 |
0,000 |
1,143 |
0,000 |
3.2.2. Modelo DEA CCR com restrições aos pesos
Na avaliação do item
anterior não foi possível obter uma boa ordenação das DMUs, isto é, verifica-se
a existência de uma grande quantidade de unidades 100% eficientes. Tal fato é uma característica dos modelos
DEA clássicos e ocorre quando o número de variáveis é muito superior ao número
de DMUs. Existe uma recomendação
empírica de que o número de DMUs deve ser pelo menos o triplo do número de
variáveis. No presente estudo essa
relação não é verificada, o que gera a grande quantidade de DMUs eficientes.
A necessidade de obter uma
melhor ordenação e a indesejável existência de múltiplos pesos nulos,
recomendam a inclusão de restrições aos pesos no modelo. Existem duas formas clássicas de fazer essa
restrição. A primeira é indicar percentuais de importância de cada variável
(Soares de Mello et al., 2001; Soares de Mello et al., 2002) [13, 11]. Embora evite completamente o problema da
existência de pesos nulos, essa abordagem obriga a que o decisor dê uma
informação bastante completa, nem sempre consensual.
Uma outra abordagem pede
apenas que o decisor indique uma ordenação de importância entre os inputs e outputs considerados. Embora essa abordagem ainda permita a
existência de pesos nulos, os julgamentos de valor emitidos são, normalmente,
consensuais. Foi então adotada esta abordagem, com os seguintes julgamentos de
valor: para a produtividade científica, as publicações em revista são mais
relevantes que as publicações em congresso; as publicações internacionais são
preferíveis às publicações nacionais; todos os tipos de publicação são mais
relevantes que as publicações classificadas como extras; a publicação em
revista internacional é mais importante que livros. Com relação aos inputs,
considera-se que as teses de doutorado, pela necessidade de ineditismo teórico,
são consideradas mais relevantes que as de mestrado.
Para a correta aplicação dos
pesos, os dados correspondentes às variáveis foram normalizados. Com a aplicação do modelo DEA CCR com
restrições aos pesos, foram obtidos os resultados da Tabela 4, na qual
apresentam-se os pesos e a eficiência de cada DMU.
Tabela 4 - Resultados do modelo DEA CCR, com restrições aos pesos.
DMUs |
Eficiência (%) |
Pesos |
|||||||
TM |
TD |
RI |
RN |
CI |
CN |
L |
EX |
||
PEB |
100,0 |
2,122 |
4,240 |
0,670 |
0,670 |
0,670 |
0,670 |
0,249 |
0,249 |
PEC |
63,5 |
0,900 |
0,833 |
0,360 |
0,000 |
0,360 |
0,000 |
0,242 |
0,000 |
PEL |
100,0 |
1,500 |
1,688 |
0,711 |
0,000 |
0,711 |
0,000 |
0,000 |
0,000 |
PEM |
87,5 |
0,865 |
4,592 |
1,952 |
0,000 |
0,022 |
0,000 |
0,211 |
0,000 |
PEMM |
100,0 |
0,759 |
2,685 |
0,502 |
0,337 |
0,320 |
0,320 |
0,053 |
0,053 |
PEN |
72,4 |
1,259 |
4,538 |
0,854 |
0,546 |
0,576 |
0,546 |
0,000 |
0,000 |
PENO |
55,5 |
1,895 |
4,982 |
0,842 |
0,657 |
0,842 |
0,657 |
0,185 |
0,185 |
PEP |
36,0 |
0,690 |
0,310 |
0,167 |
0,167 |
0,000 |
0,000 |
0,167 |
0,000 |
PEQ |
100,0 |
3,620 |
0,000 |
0,294 |
0,294 |
0,294 |
0,294 |
0,294 |
0,294 |
PESC |
70,6 |
1,158 |
0,912 |
0,196 |
0,196 |
0,196 |
0,196 |
0,196 |
0,196 |
PET |
77,6 |
2,396 |
4,788 |
0,757 |
0,757 |
0,757 |
0,757 |
0,281 |
0,281 |
PPE |
100,0 |
3,287 |
1,569 |
0,934 |
0,000 |
0,934 |
0,000 |
0,934 |
0,000 |
Comparando-se as Tabelas 2,
3 e 4, observa-se uma redução no número de DMUs eficientes, de sete para cinco,
como resultado da inclusão das restrições aos pesos. O número de pesos nulos passou a variar de zero a três. Conseguiu-se uma melhor ordenação das DMUs e
uma avaliação mais completa por não desconsiderar um menor número de variáveis.
3.2.3. Análise de resultados
Uma comparação dos dois
modelos revela que as DMUs PESC e PET deixaram de ser eficientes quando da
aplicação do modelo com restrições aos pesos.
Isto indica que no modelo inicial, estas DMUs eram eficientes devido a
uma combinação muito particular de pesos.
Já as DMUs PEB, PEL, PEMM,
PEQ e PPE são eficientes em ambos os modelos.
Esta situação indica uma robustez na eficiência. É interessante observar que dentre estas
cinco DMUs, encontram-se as únicas com conceito máximo na avaliação realizada
pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior – CAPES (PEQ
e PEMM).
Já a DMU PEP teve a mais
baixa eficiência em ambos os modelos.
Isto sugere falta de empenho ou falta de possibilidade em divulgar os
resultados obtidos na teses defendidas.
Ao comparar-se, em especial, o resultado de sua eficiência no modelo com
restrições aos pesos (36%) com o resultado da segunda mais baixa eficiência
(55,5%), nota-se a discrepância entre os resultados das publicações do PEP com
os dos outros programas avaliados.
Destaca-se, ainda, que a eficiência 36% do PEP foi conseguida com três
pesos nulos, ou seja, desconsiderando-se três critérios de avaliação.
Ainda sobre o PEP é
interessante observar a necessidade de uma definição de estratégia para
publicações. Apesar de esta DMU ter um
bom número de publicações em congressos nacionais, o modelo atribuiu peso nulo
a essa variável. De fato, as restrições
impostas obrigam a que o peso para os congressos internacionais seja, pelo
menos, igual ao dos congressos nacionais.
Assim, a falta de participação em congressos internacionais obriga a que
o modelo DEA ignore a boa participação do PEP em congressos nacionais, para não
ser penalizado pela falta de participação em congressos internacionais.
3.3. Avaliação
de produtividade
A modelagem usada na
avaliação da produtividade é semelhantes à utilizada em Angulo-Meza (1998),
Angulo-Meza e Lins (1999) e Lins e Angulo-Meza (2000) para determinação da
eficiência Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, no qual o problema da baixa discriminação foi resolvido pelo
uso de Avaliação Cruzada. Neste artigo,
ao invés da avaliação cruzada, é utilizado o método da escolha seletiva de
variáveis.
Os inputs usados no modelo DEA estão relacionados
aos recursos humanos utilizados por cada programa: número total de professores
(PROF); número total de funcionários (FUNC).
Os outputs refletem as
diversas atividades desenvolvidas em ensino, pesquisa e extensão: valores
totais (em reais) dos projetos (PROJ); publicações científicas, agregadas
segundo um índice criado pela Comissão de Avaliação de Docentes da universidade
(PUB); teses de mestrado (MEST) e de doutorado (DOC) defendidas; aulas
ministradas (AULA).
Devido ao grande número de variáveis e à falta de consenso para impor
restrições aos pesos torna-se necessário escolher apenas quatro variáveis para
compor o modelo. A escolha dessas
variáveis é feita segundo a abordagem proposta por Soares de Mello et al. (2001) [12], que faz uso
de um modelo multicritério para a escolha de variáveis a serem incorporadas ao
modelo DEA. Esta abordagem permite uma
boa ordenação, sem grande prejuízo ao ajuste das DMUs à fronteira de eficiência
e mostra-se útil principalmente em casos de avaliação de eficiência em que seja
necessário o uso de um pequeno número de DMUs e haja disponibilidade de um
grande número de variáveis (inputs e outputs).
A aplicação do método conduz
à utilização das seguintes variáveis.
Os inputs usados no modelo DEA
estão relacionados aos recursos humanos utilizados por cada programa: número
total de professores (PROF). Os outputs refletem as diversas atividades
desenvolvidas em ensino, pesquisa e extensão: valores totais (em reais) dos
projetos (PROJ); publicações científicas, agregadas segundo um índice criado
pela Comissão de Avaliação de Docentes da universidade (PUB); teses de mestrado
(MEST). Os resultados são apresentados
na Tabela 5.
3.4.
Eficiência geral
Observando os resultados obtidos em ambos
os modelos, nota-se que a DMU PEQ foi a única que resultou eficiente nas duas
abordagens.
É interessante que haja uma medida de
eficiência que agregue a produtividade e a qualidade de forma que um programa
só seja considerado eficiente se for simultaneamente produtivo e de
qualidade. Uma forma de se fazer isso é
agregando os dois índices de eficiência em um índice agregado, resultado do
produto dos dois anteriores. Esta é
considerada uma abordagem agressiva. Uma outra abordagem é um novo modelo DEA,
em que o input é a próprio existência da DMU (constante igual a 1) e os ouputs
são as eficiências dos modelos anteriores. Esta abordagem é considerada
benevolente, já que nela basta ser eficiência em uma das eficiências parciais
para ser eficiente no índice agregado final. A Tabela 6 apresenta os resultados
das duas abordagens.
Tabela 5 - Resultados de
eficiência para o modelo.
DMU |
Eficiência (%) |
PEB |
91,5 |
PEC |
75,6 |
PEL |
79,4 |
PEM |
46,5 |
PEMM |
59,8 |
PEN |
74,6 |
PENO |
72,5 |
PEP |
79,6 |
PEQ |
100,0 |
PESC |
84,3 |
PET |
100,0 |
PPE |
84,2 |
Tabela 6 - Resultados da
eficiência geral.
DMUs |
Eficiência Geral (%) agressiva |
Eficiência Geral (%) benevolente |
PEQ |
100,0 |
100,0 |
PEB |
91,5 |
100,0 |
PPE |
84,2 |
100,0 |
PEL |
79,4 |
100,0 |
PET |
77,6 |
100,0 |
PEMM |
59,8 |
100,0 |
PESC |
59,5 |
84,3 |
PEN |
54,0 |
74,6 |
PEC |
48,0 |
75,6 |
PEM |
40,7 |
87,5 |
PENO |
40,3 |
72,5 |
PEP |
28,7 |
79,6 |
O índice de eficiência agregado agressivo
ratifica as conclusões já obtidas nos modelos anteriores, em especial no que se
refere às DMUs PEQ e PEP, que apresentam o melhor e o pior desempenho geral,
respectivamente. O PEQ, pelo fato de
ser eficiente nas duas avaliações teria que ter eficiência máxima no índice
agregado. Já o PEP, embora tenha uma
eficiência mediana em produtividade, acaba tendo um péssimo resultado geral
devido à avaliação de qualidade.
O índice de eficiência agregado
benevolente não permite grandes análises devido ao elevado número de DMUs com
eficiência 100%. Cabe ressaltar que nesta agregação o PEP deixou de ter o pior
índice, que passou a ser do PENO. Nas análises posteriores serão levados em
consideração os resultados do índice agregado agressivo.
É interessante uma análise do PEMM, que
tem conceito 7 na avaliação CAPES. Este programa, na avaliação aqui efetuada
foi eficiente em qualidade, mas não em produtividade, o que prejudicou a sua
avaliação geral. Já o PET, não tão bem avaliado pela CAPES, apresenta-se bem em
produtividade, e mal em qualidade. A comparação destes dois resultados sugere
que a CAPES tem avaliações distorcidas, por não considerar os meios de cada
programa obter os seus resultados. É
evidente que essa afirmação necessita ainda de mais testes para passar de
suposição a constatação.
A Análise Envoltória de
Dados mostrou-se uma ferramenta importante para a avaliação da produtividade
científica, ao serem consideradas múltiplas variáveis que apresentam relação
causal.
Os resultados obtidos
independem de opiniões subjetivas, e sempre polêmicas, dos avaliadores, sejam
internos, como a CAD (Comissão de Avaliação de Docentes), ou externos, como a
CAPES. As únicas opiniões incluídas no
modelo de restrições aos pesos, são, geralmente, consensuais na comunidade
científica.
A inclusão de restrições aos
pesos permite um refinamento do modelo DEA clássico, mantendo, no entanto,
grande consistência de resultados em ambos os modelos. Por outro lado, se não tivessem sido
consideradas restrições aos pesos, os resultados teriam pouco significado,
devido à alta relação variáveis–DMUs.
Sempre que essa relação for alta, os resultados só podem ser validados
se ao modelo DEA forem incorporadas técnicas adicionais. A técnica de restrições aos pesos é apenas
uma destas. O uso seletivo de variáveis, que foi empregue sem grande
detalhamento teórico, é outra técnica útil, embora pouco usada na literatura.
É importante ressaltar que
os resultados obtidos em DEA são sempre comparativos. Assim, não é necessário (nem sequer possível) comparar os
resultados com os obtidos em outros problemas de avaliação. As comparações
feitas neste artigo são entre diferentes programas de uma mesma instituição. Em
Sant´Anna (2002) é feita uma comparação de programas homônimos em instituição
diferentes, e os resultados aí obtidos podem ser considerados uma avaliação
complementar à que aqui foi feita.
Os resultados deste artigo
podem contribuir no balizamento de políticas de melhoria acadêmica dos
programas analisados. Porém, esta
avaliação não pretende ser exaustiva, uma vez que existem várias vertentes a
serem analisadas.
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