Annibal Parracho Sant’Anna
Universidade Federal Fluminense
tppaps@vm.uff.br
Cleber Almeida de Oliveira
Centro de Apoio a Sistemas Operativos – Marinha do Brasil
cleberamo@aol.com
Marcos Pereira Estellita
Lins
Universidade Federal do Rio de Janeiro
estellit@iis.com.br
RESUMO
Este trabalho aplica a Análise Envoltória de Dados (DEA) a dados
extraídos dos resumos anuais da Diretoria de Saúde da Marinha do Brasil (DSM).
A medida do crescimento da produtividade total dos fatores ao longo do tempo,
utilizando o método de Malmquist-DEA
complementou a análise dos dados. Esta abordagem permite evidenciar o
crescimento da produtividade ao mesmo tempo que identifica as unidades
observadas que determinam padrões de referência para esse crescimento.
ABSTRACT
This paper synthesizes the results of a research aimed
to exploit the potential of Data Envelopment Analysis (DEA) as a tool for
analysis and evaluation of relative productivity of the Brazilian Navy Health
System in the dentistry sector from 1996 to 2000. DEA methodology was used to
calculate Malmquist indices to measure and follow the Total Factor Productivity
(TFP) growth of the evaluated health units along those years.
Keywords: Data Envelopment Analysis - Malmquist Index - Productivity
1. INTRODUÇÃO
Esta aplicação da Análise Envoltória de Dados (DEA)
baseou-se em dados extraídos dos resumos anuais da Diretoria de Saúde da
Marinha (DSM) colhidos nos anos de 1996 a 2000 relativos ao setor odontológico
das unidades hospitalares DA Marinha do Brasil que assistiam os militares da
Força e seus dependentes. O emprego da DEA permitiu realizar diversas
comparações dispensando a interferência de especialistas na obtenção de
indicadores de performance. A introdução do conceito de produtividade relativa
abriu novas alternativas para a avaliação anual da produtividade.
DEA é uma técnica baseada em
programação linear para medida da eficiência técnica, desenvolvida e aprimorada
por um grande número de autores, tais como Charnes, Cooper e Rhodes (1978),
Banker, Charnes e Cooper (1984) e Färe, Grosskopf e Lovell (1985). Na sua
essência, os vários modelos da DEA se baseiam na determinação do subconjunto
das unidades tomadoras de decisão (DMUs) que fazem parte da superfície
envolvente ou fronteira de eficiência dos dados observáveis. A forma geométrica
desta superfície envolvente depende do modelo de DEA utilizado. Uma DMU é
considerada eficiente se pertencer a essa fronteira. As DMUs que não
pertencerem a essa envolvente são caracterizadas como relativamente
ineficientes e recebem uma medida de eficiência relativa.
A medida do crescimento da
produtividade total dos fatores (Total Factor Productivity – TFP Growth),
permitindo acompanhar a evolução da produtividade das unidades avaliadas ao
longo dos anos, complementou a análise dos dados. O método de Malmquist-DEA, proposto por Färe,
Grosskopf, Norris e Zhang (1994), é o que tem sido mais estudado e aplicado nos
últimos anos para cálculo desta medida. Sua popularidade deve-se,
principalmente, a duas vantagens que decorrem da aplicação da DEA para
identificação da fronteira de eficiência. Estas vantagens são: (i) nenhuma
informação de preço é requerida e (ii) as medidas de mudanças de TFP podem ser
decompostas em componentes, tais como ‘mudanças na tecnologia’ e ‘mudanças na
eficiência técnica’. Um componente novo em nossa análise é a comparação dos
resultados obtidos aplicando a proposta de Färe et alii (1994) com a de Bjurek (1996) para avaliar o efeito da
hipótese de retornos constantes de escala da DEA no cálculo do índice de
Malmquist.
As variáveis que definiram o modelo foram: a média
do efetivo de cirurgiões-dentistas e o número de consultórios odontológicos
operantes, como fatores de entrada, e o total de consultas, como fator de
saída. Com isto se aprimorou a estrutura de análise anteriormente aplicada, que
era baseada no cálculo de índices que não levavam em conta a disponibilidade de
consultórios nem de cirurgiões-dentistas.
Como
ponto de partida, estabelecemos nossos objetivos em termos de maximização dos outputs (quantidades das saídas
oferecidas) que poderão ser obtidos sem elevar o nível dos inputs (quantidades das entradas utilizadas). Isto se justifica porque,
no setor público, alterações nos insumos não são fáceis e demandam ações
externas às organizações hospitalares, de modo que os incrementos na
produtividade desses órgãos são buscados através da elevação do volume dos
resultados obtidos com a plena utilização dos recursos, fixados em montantes
sempre pequenos relativamente à demanda realmente enfrentada. O modelo para a
maximização dos outputs tenta
encontrar o maior aumento proporcional da produção da DMU em análise, de forma
que esta ainda satisfaça suas limitações nos inputs.
Na Seção 2, aplicamos DEA ao
conjunto dos dados dos 5 anos. Na Seção 3, discutimos a metodologia aplicada
para a análise da evolução da produtividade ao longo do tempo baseada no uso da
DEA para o cálculo do índice de Malmquist. Na Seção 4, apresentamos os dados
selecionados e aplicamos aos mesmos a metodologia de Malmquist-DEA. Na Seção 5,
introduzimos a abordagem de Bjurek (1996) e comparamos os resultados obtidos
através desta metodologia com os obtidos anteriormente.
2. DADOS E PRIMEIROS
CÁLCULOS DE EFICIÊNCIA
Para tentar evitar que particularidades operacionais
comprometessem a homogeneidade do conjunto de DMUs, este estudo se restringe às
unidades do Serviço de Saúde da Marinha que assistem os militares e seus
dependentes. Isto reduz o conjunto analisado a nove unidades, 3 unidades
ambulatoriais no Rio de Janeiro: HCM, OCM, PNNSG e 6 hospitais fora do Rio de
Janeiro: HNSA, HNRE, HNNA, HNBE, HNLA, HNBR. A Tabela 2.1 apresenta os valores
das variáveis consideradas.
Tabela 2.1. Variáveis de Entrada e Saída
|
Entradas |
Saída |
|||||||||||||||
DMU |
X 1 -
Dentistas |
X 2 –
Consultorios |
Y3 – Consultas |
||||||||||||||
|
96 |
97 |
98 |
99 |
00 |
96 |
97 |
98 |
99 |
00 |
96 |
97 |
98 |
99 |
00 |
||
HCM |
8 |
8 |
8 |
11 |
14 |
12 |
13 |
13 |
13 |
17 |
16.980 |
14.942 |
12.685 |
15.262 |
17.127 |
||
HNBE |
19 |
18 |
18 |
18 |
18 |
12 |
12 |
12 |
12 |
12 |
17.168 |
10.703 |
9.875 |
18.348 |
21.025 |
||
HNBR |
11 |
18 |
22 |
22 |
24 |
8 |
8 |
8 |
8 |
8 |
16.420 |
17.104 |
12.607 |
13.761 |
16.819 |
||
HNLA |
7 |
8 |
9 |
9 |
10 |
4 |
4 |
4 |
4 |
5 |
7.874 |
8.083 |
14.731 |
13.505 |
14.332 |
||
HNNA |
10 |
11 |
10 |
11 |
13 |
8 |
8 |
8 |
8 |
8 |
15.987 |
10.062 |
11.438 |
13.381 |
18.448 |
||
HNSA |
13 |
16 |
16 |
15 |
20 |
10 |
10 |
11 |
11 |
11 |
18.834 |
18.810 |
14.842 |
17.049 |
26.420 |
||
HNRE |
8 |
12 |
11 |
10 |
10 |
7 |
6 |
7 |
5 |
4 |
6.324 |
14.077 |
16.341 |
15.864 |
21.250 |
||
PNNSG |
22 |
23 |
24 |
35 |
38 |
19 |
27 |
27 |
27 |
27 |
35.080 |
32.849 |
38.170 |
44.410 |
49.907 |
||
COM |
80 |
82 |
87 |
97 |
94 |
64 |
65 |
68 |
68 |
66 |
100.216 |
103.782 |
104.772 |
123.032 |
135.964 |
||
A tabela 2.2 apresenta as correlações entre as variáveis.
As correlações entre as duas variáveis de entrada são bastante elevadas
significando que recursos humanos especializados e instalações são utilizados
em proporções semelhantes. Observam-se, também, correlações elevadas entre as
variáveis de entrada e a variável de saída.
Tabela 2.2 – Análise de
Correlação entre Variáveis
|
Nº Dentistas |
Nº Consultórios |
Nº Consultas |
Nº Dentistas |
1 |
|
|
Nº Consultórios |
0,97 |
1 |
|
Nº Consultas |
0,98 |
0,97 |
1 |
As figuras 2.1 e 2.2
apresentam as eficiências parciais no modelo DEA VRS, em relação a cada um dos
inputs, considerando-se os dados coletados, anualmente, de cada unidade
hospitalar avaliada. Ao calcularmos a eficiência parcial em relação ao número
de dentistas, verificamos (Figura 2.1) que as DMUs HCM-96, OCM-00, HNRE-00 e
HNLA-96 pertencem à fronteira de eficiência. No cálculo da eficiência parcial
em relação ao número de consultórios, verificamos (Figura 2.2) que as DMUs
HNRE-00 e OCM-00 pertencem à fronteira de eficiência.
Figura 2.1 - Eficiência Parcial em Relação
ao Nº de Dentistas
Figura 2.2 - Eficiência Parcial em Relação ao Nº de Consultórios
A
tabela 2.3 resume os valores de eficiência relativa obtidos nas análises dos
modelos CRS para as 9 unidades hospitalares, nos anos de 1996 a 2000.
Tabela
2.3 – Eficiências no Modelo CRS
ANO |
HCM |
HNBE |
HNBR |
HNLA |
HNNA |
HNSA |
HNRE |
PNNSG |
OCM |
1996 |
100% |
69,7% |
100% |
95,9% |
100% |
93,2% |
49,4% |
96,9% |
78,4% |
1997 |
100% |
46,6% |
91,1% |
86,1% |
69,6% |
94,0% |
100% |
89,9% |
93,5% |
1998 |
96,9% |
33,5% |
42,8% |
100% |
69,9% |
56,7% |
90,8% |
97,2% |
73,6% |
1999 |
89,0% |
64,3% |
50,9% |
100% |
76,7% |
71,6% |
100% |
80,0% |
80,0% |
2000 |
57,6% |
55,0% |
39,6% |
67,4% |
66,8% |
62,2% |
100% |
61,8% |
68,1% |
Quando o aumento de produção
é proporcional ao dos inputs, há
rendimentos constantes à escala (CRS). Se o aumento dos outputs for superior ao aumento proporcional, há rendimentos
crescentes à escala (IRS) e, se o aumento for inferior, há rendimentos
decrescentes à escala (DRS). O tipo de rendimento à escala fica determinado no
modelo CRS pelo somatório dos pesos das
unidades de referência (Banker e Thrall, 1992): se a soma dos l for maior que 1 para todas as soluções
ótimas alternativas, então prevalecem rendimentos decrescentes à escala (DRS)
no ponto projetado da DMUk; se for menor que 1 para todas as
soluções ótimas alternativas, então prevalecem rendimentos crescentes à escala
(IRS) no ponto projetado da DMUk; se for igual a 1 para alguma
dessas soluções, então prevalecem rendimentos constantes à escala (CRS) no
ponto projetado da DMUk.
No modelo VRS, o rendimento
à escala é determinado pelo coeficiente linear do hiperplano suporte da unidade
avaliada (Banker et alii, 1984). Banker e Thrall (1992) mostraram que o sinal
de é igual ao sinal de , quando a eficiência medida pelo modelo CRS for menor que 1.
Tabela
2.4. Somatório dos Lambdas
DMU |
1996 |
1997 |
1998 |
1999 |
2000 |
HCM |
1 |
1 |
0,89 |
1,1 |
1,4 |
HNBE |
1,5 |
1,61 |
2 |
1,8 |
1,8 |
HNBR |
1 |
1,33 |
2 |
2 |
2 |
HNLA |
0,5 |
0,67 |
1 |
1 |
1 |
HNNA |
1 |
1,01 |
1,11 |
1,1 |
1,3 |
HNSA |
1,25 |
1,41 |
1,78 |
1,5 |
2 |
HNRE |
0,82 |
1 |
1,22 |
1 |
1 |
PNNSG |
2,25 |
2,49 |
2,67 |
3,5 |
3,8 |
OCM |
8 |
7,73 |
9,67 |
9,7 |
9,4 |
A Tabela 2.4 sugere que
algumas unidades operam em faixa de rendimentos decrescentes de escala,
sobretudo as duas unidades de maiores dimensões. Rendimentos decrescentes de
escala podem ocorrer devido às unidades maiores realizarem procedimentos de
maior complexidade ou possuírem mais funções de administração geral, a serem
exercidas por cirurgiões-dentistas. A análise dos resultados da DEA,
isoladamente, não permite, entretanto, avaliar estes possíveis fatores.
O caso extremo é o de OCM, que, com dimensões muito maiores que as dos demais hospitais, pode ter sua ineficiência atribuída a rendimentos decrescentes de escala. É o que se verifica, ao aplicar o modelo VRS, que, conforme explicado acima, atribui eficiência 1 a todas as unidades com valores extremos. As eficiências segundo o modelo VRS são mostradas na Tabela 2.5.
Tabela 2.5. Eficiências no
Modelo VRS
ANO |
HCM |
HNBE |
HNBR |
HNLA |
HNNA |
HNSA |
HNRE |
PNNSG |
OCM |
1996 |
100% |
74,0% |
100% |
100% |
100% |
95,1% |
53,7% |
100% |
100% |
1997 |
100% |
48,0% |
99,9% |
100% |
69,7% |
96,1% |
100% |
99,7% |
100% |
1998 |
100% |
38,8% |
61,9% |
100% |
70,2% |
63,1% |
91,7% |
100% |
100% |
1999 |
90,8% |
71,3% |
65,6% |
100% |
78,3% |
77,4% |
100% |
95,2% |
100% |
2000 |
64,1% |
65,3% |
58,7% |
67,4% |
72,8% |
77,2% |
100% |
83,9% |
100% |
Comparando-se
os resultados obtidos, verifica-se variação expressiva de um ano para o outro
em determinadas unidades hospitalares. Isto pode ter ocorrido por mudança na
administração ou forte variação no número de militares destacados em outras
organizações militares, em licenças especiais ou em funções administrativas.
Pode, também, ser atribuído aos erros de registro. O que mais chama a atenção,
entretanto, são as mudanças nos resultados quando se passa da abordagem CRS
para a abordagem VRS, principalmente nas unidades que apresentam os dados dos inputs bem acima da média das outras
unidades tais como PNNSG e OCM. A Tabela 2.6 aprofunda a análise dessas
diferenças. Refere-se ao ano de 2000, mas a análise dos anos anteriores produz
resultados similares.
Tabela 2.6. Pontos projetados e Percentuais das
Folgas nos modelos CRS e VRS em 2000
|
MODELO CRS |
MODELO VRS |
||||||||
J |
DMU |
eficiência |
Dentistas |
Consultórios |
Consultas |
eficiência |
Dentistas |
Consultórios |
Consultas |
|
1 |
HCM |
57,6% |
14 |
17 |
17,127 |
64,1% |
14 |
17 |
17,127 |
|
|
|
|
14 |
5,6 |
29,750 |
|
14 |
7 |
26,718 |
|
|
|
|
0,0% |
- 67,1% |
73,7% |
|
0,0% |
- 58,8% |
56,0% |
|
2 |
HNBE |
55,0% |
18 |
12 |
21,025 |
65,4% |
18 |
12 |
21,025 |
|
|
|
|
18 |
7,2 |
38,244 |
|
18 |
9,9 |
32,168 |
|
|
|
|
0,0% |
- 40,0% |
81,9% |
|
0,0% |
- 17,5% |
53,0% |
|
3 |
HNBR |
39,6% |
24 |
8 |
16,819 |
58,7% |
24 |
8 |
16,819 |
|
|
|
|
20 |
8 |
42,502 |
|
15,4 |
8 |
28,660 |
|
|
|
|
- 16,7% |
0,0% |
152,7% |
|
- 35,8% |
0,0% |
70,4% |
|
4 |
HNLA |
67,4% |
10 |
5 |
14,332 |
67,4% |
10 |
5 |
14,332 |
|
|
|
|
10 |
4 |
21,254 |
|
10 |
4 |
21,254 |
|
|
|
|
0,0% |
- 20,0% |
48,3% |
|
0,0% |
20,0% |
48,3% |
|
5 |
HNNA |
66,8% |
13 |
8 |
18,448 |
72,5% |
13 |
8 |
18,448 |
|
|
|
|
13 |
5,2 |
27,635 |
|
13 |
6,2 |
25,440 |
|
|
|
|
0,0% |
- 35,0% |
49,8% |
|
0,0% |
- 22,5% |
37,9% |
|
6 |
HNSA |
62,2% |
20 |
11 |
26,420 |
77,2% |
20 |
11 |
26,420 |
|
|
|
|
20 |
8 |
42,510 |
|
19,5 |
11 |
34,214 |
|
|
|
|
0,0% |
- 27,3% |
60,9% |
|
-2,5% |
0,0% |
29,5% |
|
7 |
HNRE |
100% |
10 |
4 |
21,250 |
100% |
10 |
4 |
21,250 |
|
|
|
|
10 |
4 |
21,250 |
|
10 |
4 |
21,250 |
|
|
|
|
0,0% |
0,0% |
0,0% |
|
0,0% |
0,0% |
0,0% |
|
8 |
PNNSG |
61,8% |
38 |
27 |
49,907 |
83,9% |
38 |
27 |
49,907 |
|
|
|
|
38 |
15,2 |
80,749 |
|
38 |
24,7 |
59,489 |
|
|
|
|
0,0% |
- 43,7% |
61,8% |
|
0,0% |
- 8,5% |
19,2% |
|
9 |
OCM |
68,1% |
94 |
66 |
135,964 |
100% |
94 |
66 |
135,964 |
|
|
|
|
94 |
37,6 |
199,731 |
|
94 |
66 |
135,964 |
|
|
|
|
0,0% |
- 43,0% |
46,9% |
|
0,0% |
0,0% |
0,0% |
Na análise da eficiência
parcial no modelo VRS em relação a cada input, apresentada nas figuras 2.1 e
2.2, verificou-se que as DMUs HNRE-00 e OCM-00 pertenciam à fronteira de
eficiência em ambos os gráficos. Assim, a análise do modelo VRS nos conduz à conclusão
de que HNRE deve ser considerada um benchmark
para as demais unidades do mesmo porte, enquanto OCM deve ser considerada um benchmark dentre as unidades
hospitalares de grande porte.
O estudo dos resultados
obtidos até aqui revela, também, que a produtividade calculada em termos de
consultas realizadas relativamente ao número de dentistas efetivo da unidade
ainda é uma medida sujeita a distorções. Verificamos que o número de
consultórios disponíveis modifica substancialmente os resultados da comparação
que fosse feita exclusivamente em termos de produtividade dos recursos humanos.
Realmente, verifica-se, na Tabela 2.6, que é na eliminação das folgas na
utilização dos consultórios disponíveis que a eficiência da maior parte das
DMU´s poderia ser aumentada. Logo, uma estratégia para elevar a eficiência
envolveria, possivelmente, a elevação do número médio de dentistas nas
unidades, ao contrário do que a análise em termos de produtividade simples
indicaria.
3. MÉTODO DE MALMQUIST-DEA
O
método de Malmquist-DEA resume-se em aplicar o algoritmo de programação linear
de DEA para construção da fronteira de produção de um determinado período e
depois para o cálculo da razão entre as distâncias de dois pontos de produção
de períodos distintos de uma mesma unidade à fronteira assim construída.
Determinamos, por exemplo, a distância do ponto de produção do período t à
fronteira do período t, a distância do ponto de produção do período t+1 à
fronteira do período t e calculamos a razão entre as distâncias.
Färe et alii (1994) calculam o índice de Malmquist-DEA (Mo)
através da média geométrica de dois índices, onde o primeiro utiliza como
referência a fronteira do período t e o segundo a fronteira do período t+1. A
principal vantagem da utilização dessa média geométrica é evitar a difícil
escolha entre qual das duas fronteiras de produção deve ser utilizada como
referência para o cálculo do índice. Um valor de Mo maior que 1
indica um crescimento ou evolução do fator de produtividade total entre os
períodos t e t+1, enquanto que um valor menor que 1 indica um declínio.
A Equação 3.1 representa a
decomposição de Färe et alii (1994)
para o índice de Malmquist. Nela e denotam, respectivamente, os volumes de inputs e outputs da DMU
no instante t e denota distância à
fronteira do instante t medida em termos de eficiência relativa, conforme
calculado pela DEA orientada para a maximização do output.
Equação 3.1. –
Índice de Malmquist – média geométrica
Os seguintes problemas de
programação linear devem ser resolvidos para o cálculo de na equação 3.1:
(A1) (A2)
(A3) (A4)
Nos problemas A3 e A4, onde
os pontos de produção são comparados a tecnologias de períodos diferentes, o
parâmetro não precisa ser maior
ou igual a 1, como se espera quando se calcula a eficiência no período
corrente. O ponto pode ficar fora do conjunto de produção factível. Este fato
ocorrerá com alta probabilidade se houver evolução tecnológica, no problema A3,
onde um ponto de produção de um período t+1 é comparado com a tecnologia no
período t. Obviamente, caso ocorra uma regressão técnica, menor que um também
será possível solução de A4.
Färe et alii (1994) apresentaram uma
maneira equivalente de definir Mo, que permite uma interpretação do
crescimento da produtividade em termos de fontes desta evolução:
Equação 3.2 – Índice de Malmquist – Forma
Decomposta
Nesta
decomposição, a razão fora dos parênteses mede a mudança na eficiência relativa
e é chamada por Färe et alii (1994)
de “mudança técnica”. Esta razão verifica se a produção da unidade está se
aproximando ou se afastando da fronteira. Enquanto isso, a média geométrica das
duas razões dentro dos parênteses mede a mudança da tecnologia entre os dois
períodos avaliados em xt e xt+1 e é chamada por Färe et alii de “mudança na eficiência”.
Estes índices parciais são importantes porque permitem verificar se um eventual
aumento da eficiência relativa de um ano para o outro deve ser atribuído ao
aumento da produtividade da unidade avaliada ou à contração da fronteira de
produção.
Färe et alii (1994) discutem o uso da
abordagem VRS no cálculo do índice de Malmquist. Calculando a “mudança na
eficiência” em relação à fronteira VRS, obtêm o que chamam de “mudança na
eficiência pura” e medem a mudança na escala de produção através da razão entre
a “mudança na eficiência” e a “mudança na eficiência pura”. Esta caracterização
é contestada, por exemplo, por Ray e Desli (1997). Estes calculam sua mudança
na escala de produção através da média geométrica entre dois quocientes, o
primeiro entre as razões das eficiências em relação às fronteiras CRS e VRS do
instante t de DMUs com os valores da unidade em tela nos instantes t e t+1 e o
segundo entre as razões das eficiências em relação às fronteiras CRS e VRS do
instante t+1 das mesmas DMUs. Além disso, Ray e Desli (1997) defendem que a
mudança técnica seja calculada com referência à fronteira VRS. Retornaremos ao
confronto entre as abordagens CRS e VRS na Seção 6, ao introduzirmos a metodologia
de Bjurek (1996).
4. RESULTADOS
DA ANÁLISE DINÂMICA
Calculamos,
inicialmente, o crescimento da produção e seus componentes no período de 1996 a
2000 utilizando Malmquist-DEA, segundo a proposta de Färe et alii (1994). A Tabela 4.1 apresenta os valores médios do índice
de Malmquist e da decomposição de Färe et
alii (1994). Estes valores constituem um sumário do crescimento da
produtividade de todas as nove unidades durante todo o período analisado, de
1996 a 2000. Os valores em que se baseiam foram obtidos utilizando o DEAP
(Coelli, 1996 e Coelli e Prasada-Rao, 2001).
Tabela 4.1.
Média dos Índices de 1996-2000
DMU |
Índice de Malmquist |
Mudança Técnica |
Mudança na Eficiência |
Mudança na Eficiência Pura |
Mudança na Escala |
HCM |
0,87 |
0,995 |
0,87 |
0,895 |
0,97 |
HNBE |
1,06 |
1,12 |
0,94 |
0,97 |
0,97 |
HNBR |
0,97 |
1,238 |
0,79 |
0,875 |
0,916 |
HNLA |
1,09 |
1,19 |
0,92 |
0,91 |
1,01 |
HNNA |
0,98 |
1,08 |
0,90 |
0,92 |
0,989 |
HNSA |
1,01 |
1,11 |
0,90 |
0,95 |
0,95 |
HNRE |
1,41 |
1,17 |
1,20 |
1,18 |
1,021 |
PNNSG |
0,92 |
1,03 |
0,89 |
0,96 |
0,93 |
Com |
1,04 |
1,08 |
0,965 |
1 |
0,965 |
Média |
1,03 |
1,11 |
0,93 |
0,96 |
0,97 |
Podemos observar na Tabela
4.1 que houve crescimento médio de 2,9% por ano na produtividade ao
verificarmos a média dos valores obtidos do índice de Malmquist. Ao observarmos
os resultados de cada DMU, verificaremos que HNRE obteve o maior crescimento da
produtividade total na amostra, com 40,6% em média, e que a mudança de
eficiência contribuiu bastante para esse resultado.
A avaliação em termos de
mudança técnica reduz a evolução das unidades que movimentam a fronteira no
tempo. Para prover evidências para identificação das unidades inovadoras
podemos observar as funções de distância e observar se:
TCk > 1
Dt(xk,t+1,yk,t+1) > 1
Dt+1(xk,t+1,yk,t+1) = 1,
onde k indica a unidade observada e TC denota
mudança técnica. DMU’s satisfazendo estas condições contribuem para uma mudança
da fronteira entre os períodos t e t+1. Aplicando este critério, podemos
construir a tabela seguinte.
Tabela 4.2.
Unidades que mais contribuíram para a mudança da fronteira
Período |
Unidade |
1996/1997 |
- |
1997/1998 |
HNLA |
1998/1999 |
- |
1999/2000 |
HNRE |
Os gráficos 1 e 2, abaixo,
ilustram a decomposição do crescimento da produtividade, apresentando a
evolução, ao longo do período, dos índices referentes às unidades HNLA e HNRE,
respectivamente.
5. O MÉTODO DE BJUREK
Bjurek
(1996) idealizou um índice de TFP definido como o quociente de um índice
orientado para o output por um índice orientado para o input. Ao invés de definir o índice de produtividade
baseado numa orientação de input ou output, esta formulação mede a mudança da
quantidade de output na orientação para o output e da quantidade de input na
orientação para o input. Enquanto, no índice orientado para o output, os
recursos ficam fixos e o índice é o quociente tendo no numerador produção do
ano t+1 e no denominador produção do ano t, no índice orientado para o input os
produtos ficam fixos e o quociente tem no denominador recursos do ano t+1 e no
numerador recursos do ano t.
Equação 5.1 – Método BJUREK
Para
tornar o índice independente da escolha da fronteira inicial ou final, podemos
usar também a média geométrica.
Equação 5.2. Método BJUREK – Média Geométrica
Esta
formulação só é adequada ao cálculo relativo a fronteiras VRS. No ambiente CRS
as medidas de eficiência nas orientações output e input dos dados de entrada e
de saída idênticos se anulam tornando o índice mais simples:
Equação 5.3. Método BJUREK –abordagem CRS
É ilustrativa a comparação dos resultados obtidos
através do cálculo do índice de Malmquist utilizando a metodologia de
Bjurek(1996), relativamente ás fronteiras VRS e calculando a média geométrica,
com os obtidos através da metodologia de Färe et alii (1994) para os anos de 1999 e 2000.
Tabela 5.1.
Comparação da Metodologia de Bjurek com a Tradicional
DMU |
MTFP |
Malmquist |
HCM |
1 |
0,87 |
HNBE |
1 |
1,15 |
HNBR |
1 |
1,22 |
HNLA |
0,97 |
0,93 |
HNNA |
1 |
1,17 |
HNSA |
1 |
1,16 |
HNRE |
1,08 |
1,45 |
PNNSG |
1 |
1,04 |
OCM |
1,02 |
1,14 |
Média |
1,01 |
1,11 |
Na tabela 5.1, percebe-se
uma significativa diferença entre os índices calculados. Na abordagem de Färe et alii (1994), o índice de Malmquist
englobando todos os componentes de variabilidade é obtido comparando com a
fronteira CRS. Assim se há retornos decrescentes de escala, unidades pequenas
podem gerar fronteiras de eficiência que as unidades maiores não podem atingir.
A comparação com o resultado obtido através do emprego da metodologia de Bjurek
(1996) permite avaliar esta conjectura. No caso, verifica-se que ela faz
sentido e há maior homogeneidade na evolução das unidades examinadas, do ponto
de vista das variáveis que pudemos levantar, do que sugerido pelos índices
calculados pelo método anterior.
6. COMENTÁRIOS FINAIS
Este trabalho desenvolveu-se
no sentido de aplicar a metodologia de análise de eficiência relativa e de
fornecer maiores subsídios para análise do setor odontológico do Sistema de
Saúde da Marinha através da quantificação das medidas da performance e da evolução
da produtividade total calculados por DEA. Ficou evidenciado o poder dos novos
enfoques aplicados de facilitar a avaliação das decisões de planejamento e de
contribuir para orientar a revisão das técnicas de coletas de dados e
operacionalização das variáveis. Por outro lado, a inclusão de outras
variáveis, ainda não disponíveis, tornaria o modelo mais realista. Dentre estas
variáveis destacamos, do lado dos recursos, o número de horas efetivamente
dedicadas pelos cirurgiões dentistas à atividade-fim e o volume das despesas
com material e, do lado dos produtos, o número de procedimentos cirúrgicos
realizados.
BANKER,
R. D., CHARNES, A. e COOPER, W. W. (1984). “Some models for estimating
technical and scale inefficiencies in Data Envelopment Analysis”, Management Science, 30 pp. 1078-1092.
BJUREK,
H. (1996). “The Malmquist Total Factor Productivity Index”, Scandinavian Journal of Economics, 98, pp. 303-313.
CHARNES,
A., COOPER W.W. e RHODES E. (1978). “Measuring the Efficiency of Decision
Making Units”, European Journal of
Operations Research, 2, pp. 429-444.
COELLI,
T. e PRASADA-RAO, D. S. “Implicit Value Shares in Malmquist TFP Index Numbers”,
CEPA Working Papers, Nº 4/2001, University of New England, 2001.
COELLI,
T., “A Guide to DEAP - Version 2.1: A Data Envelopment Analysis (Computer)
Program”, CEPA Working Papers, University of New England, 1996.
FÄRE,
R. et alii, “The
Measurement of Efficiency and Production”, Kluwer-Nijhoff, Publishing, Boston,
1985.
FÄRE,
R. et alii (1994).
“Productivity growth, technical progress, and efficiency change in
industrialized countries”, American
Economic Review, 84, pp. 66-83.
RAY, S. C. e DESLI, E. (1997). “Productivity growth, technical progress and efficiency change in
industrialized countries” - Comment, American
Economic Review, 87, pp. 1033-1039.